Resumo
O Formaldeído (FA) é um dos compostos
químicos mais utilizados em todo o mundo. A sua aplicação é
multifacetada e transversal a praticamente todas as actividades, sendo
que a exposição humana a este composto assume particular importância a
nível industrial e no sector da saúde, onde é bastante utilizado. Este
facto aliado ao seu baixo custo de produção, faz do FA um químico de uso
corrente e de difícil substituição.
Recentemente a International Agency for Research on Cancer (IARC)
reclassificou-o como agente carcinogénico para o Homem, com base em
estudos epidemiológicos de populações ocupacionalmente expostas. Embora
tenha sido classificado como carcinogénico, não existem até ao momento
dados conclusivos no que se refere às consequências na saúde humana da
exposição a este aldeído. O potencial genotóxico e citotóxico do FA está
descrito tanto in vitro como in vivo. Vários estudos apontam os
laboratórios de anatomia patológica como sendo um dos cenários
ocupacionais em que os trabalhadores estão expostos a elevados níveis de
FA. Nestes laboratórios decorrem actividades que implicam a libertação
de vapores de FA pela utilização de formol, usado em procedimentos
anatomopatológicos para conservar e armazenar biópsias e peças
cirúrgicas. Um estudo recente, realizado em Portugal, indica que os
valores de FA existentes no ar dos laboratórios dos Serviços
Hospitalares de Anatomia Patológica excedem valores normativos, tanto
nacionais como internacionais. Neste contexto desenvolveu-se um trabalho
que teve como principal objectivo avaliar o efeito genotóxico da
exposição ocupacional a FA em profissionais dos Serviços Hospitalares de
Anatomia Patológica, relacionando um biomarcador de toxicidade e a
exposição. Para o efeito foi estudada uma população de 55 profissionais
dos Serviços Hospitalares de Anatomia Patológica, expostos a FA no seu
ambiente de trabalho e 52 indivíduos com historial ocupacional de não
exposição a FA e com características demográficas e estilos de vida
semelhantes ao grupo exposto. A avaliação da exposição ocupacional a FA
foi realizada pela medição da concentração no local de trabalho e pela
análise de um indicador biológico, o teste do micronúcleo (MN). Para
estimar o nível de exposição a FA nos Serviços de Anatomia Patológica
durante a jornada de trabalho (TWA) recorreu-se à amostragem contínua de
ar no posto de trabalho, representativa do ar inalado pelos
trabalhadores. Para a observação dos efeitos genotóxicos recorreu-se ao
teste do MN em linfócitos de sangue periférico. Para o grupo de
trabalhadores estudados, tendo em conta a jornada de trabalho (8 horas
diárias e 40 horas semanais) obteve-se um valor médio de exposição a FA
de 0.49 ppm. Os resultados obtidos para o indicador de genotoxicidade
revelaram que os indivíduos expostos apresentaram, em média, maior dano
genético comparativamente aos indivíduos do grupo controlo. Observou-se
no grupo exposto uma relação estatisticamente significativa entre a
exposição a FA e a frequência de MN (p < 0.003). A análise das
características da população sugere que o género tem um efeito
significativo na frequência de MN em ambos os grupos (p < 0.017) e que o
fumo do tabaco não influencia significativamente a variável dependente
estudada. Observou-se uma maior frequência de MN com o aumento da idade
e com o aumento do tempo de exposição a FA. O conjunto de dados reunidos
contribui para a caracterização da exposição a FA num contexto
profissional específico, podendo, deste modo, revelar-se particularmente
útil para reforçar a necessidade de alterar as práticas de trabalho de
forma a salvaguardar a saúde dos profissionais. Por outro lado, a
informação recolhida será útil para as entidades responsáveis em definir
os níveis aceitáveis para a exposição ocupacional a FA e para os
serviços que têm a seu cargo a vigilância da saúde dos trabalhadores.
Índice
Índice de abreviaturas
Índice de figuras
Índice de tabelas
1. Introdução
1.1. Formaldeído (FA)
1.1.1. Aplicações e relevância comercial
1.1.2. Exposição Ambiental
1.1.3. Exposição Ocupacional
1.1.4. Metabolismo
1.1.5. Efeitos na Saúde
1.1.5.1. Sintomatologia
1.1.5.2. Carcinogenicidade
1.2. Avaliação de Exposição
1.2.1. Monitorização Ambiental
1.2.2. Monitorização Biológica
1.2.2.1. Biomarcadores
1.2.2.1.1. Biomarcadores de exposição
1.2.2.1.2. Biomarcadores de efeito
1.2.2.1.3. Biomarcadores de
susceptibilidade.
2. Materiais e Métodos
2.1. População estudada
2.1.1. Contacto com as Instituições e
informação relevante
2.2. Metodologia
2.2.1. Monitorização Ambiental
2.2.2. Monitorização Biológica
2.3. Análise Estatística
3. Resultados
3.1. Monitorização Ambiental
3.2. Monitorização Biológica
3.2.1. Teste do micronúcleo
3.2.2. Relação entre a exposição a
formaldeído e a frequência de micronúcleos
3.2.3. Relação entre o sexo dos indivíduos e a frequência de
micronúcleos
3.2.4. Relação entre a idade dos indivíduos e a frequência de
micronúcleos
3.2.5. Relação entre os hábitos tabágicos dos indivíduos e a frequência
de micronúcleos
3.2.6. Relação entre o tempo de exposição dos indivíduos e a frequência
de micronúcleos
4. Discussão
5. Conclusão
Bibliografia
Anexo I
Trabalho completo